São muitos os filmes que passam longe de Pelotas. É complicado abarcar tudo em uma sala comercial. Por isso, Pelotas se manteve, nas últimas décadas, com projetos alternativos de exibição. Foram muitos os cineclubes que a cidade teve ao longo de sua história, alguns dos quais eu mesmo participei ou organizei, e que ajudaram a dar vazão a filmes diversos — desde os clássicos formadores até mesmo um novo cinema brasileiro contemporâneo.
Um espaço que sempre foi central para esse movimento é o Centro de Artes e, consequentemente, a sala dos cursos de Cinema, o Cine UFPel. Localizado junto à Agência Lagoa Mirim, é uma preciosidade que precisa de mais atenção e cuidado por parte da instituição.
São notáveis os esforços dos cursos de Cinema em manter algo regular por lá, mas a sala parece servir a tudo um pouco, e a coordenação acaba impactada pelas precarizações da UFPel. Algo ruim para um projeto que tem missão e valores tão necessários atualmente no âmbito da exibição e distribuição audiovisual. A sala, idealizada e desenvolvida por Cíntia Langie e Rafael Andreazza, trouxe por anos filmes brasileiros do circuito comercial — sessões lotadas e exclusivas que nem as grandes redes da cidade conseguiram ou se interessaram em oferecer, como, por exemplo, Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, além de tantos outros.
Hoje, o Cine — como é carinhosamente chamado por estudantes do curso e pelo público — só consegue realizar duas sessões de cinema abertas à comunidade a cada semana. Além disso, os horários são complicados: 10h e 16h, em dias de semana. Dizem que é por falta de uma equipe de segurança que, em breve, será contratada. Mas já faz um bom tempo que isso paira no ar sem definição.
Seja como for, um espaço de cinefilia e cultura como o Cine UFPel não pode ficar esquecido pela universidade dessa forma. Sua estrutura é ótima e confortável, com poltronas, climatização e projeção de qualidade. Além disso, o curso de Cinema já provou que tem todos os recursos, entre alunos e professores, para manter uma programação robusta.
Fica o apelo para que a Pró-reitoria de Extensão e Cultura, assim como a própria direção da UFPel, tome providências para fazer com que o Cine seja, de fato, um espaço de cinema — pensado exatamente para ser isso, aproveitando as gigantescas potencialidades dos cursos de Cinema.
Texto para coluna de cinema do jornal A Hora do Sul, edição impressa conjunta de 29 e 30 de março de 2025.