Mamãezinha querida: “Jayne Mansfield, Minha Mãe”, de Mariska Hargitay

Jayne Mansfield foi uma figura mítica do folclore hollywoodiano. Englobou de tudo um pouco, mas, essencialmente, foi sempre considerada um produto dos estúdios. Uma espécie de sex symbol que apresentava o clichê da loira superficial e afetada, de voz infantil. Uma vítima de uma época em que os estúdios fabricavam estrelas com um rebranding forçado e muito storytelling inventado, água oxigenada e maquiagem. Mas quem era a mulher por trás disso tudo, não é?

É isso que a também atriz Mariska Hargitay, filha de Mansfield, quer descobrir no documentário Jayne Mansfield, Minha Mãe (2025), disponível na HBO Max. Mansfield faleceu quando Mariska tinha três anos de idade, num acidente fatal de carro. Mariska e seus outros dois irmãos, fruto do casamento de Jane com o ator e modelo Mickey Hargitay, estavam no carro conduzido pelo último marido da atriz, o produtor Matt Cimber. O que sobrou para Mariska foi uma vida sem lembranças da própria mãe, de um vazio presente, muito marcado pela memória dos outros.

O filme aqui, então, serve como um objeto de transição e redenção para Mariska, que não só é narradora e personagem, como também diretora. É um resgate, uma busca por conhecer verdadeiramente sua mãe através dos outros, mas também de desmistificar para o público a ideia inicial vendida sobre Mansfield (que, aliás, tinha um QI altíssimo!), ao mesmo tempo que procura encontrar pontos de convergência entre sua própria história e a da mãe.

Entre tantos momentos arrebatadores, há um, próximo ao final, que Mariska guardou a sete chaves e que agora passa dos boatos para o fato. É uma espécie de quebra de ciclo, de perdão, uma descoberta que a deixa menos solitária e que é preferível não revelar aqui. Assim como Jane vestia uma máscara e uma voz afetada frente às câmeras, Mariska também vendeu a ideia de ser uma mulher tão forte quanto sua magnífica personagem em Law and Order. Aqui, encontra-se um equilíbrio: em Mariska poder se aproximar da magnitude e imperfeição da própria mãe. Duas mulheres distantes uma da outra, mas tão próximas na complexidade e no talento.

Texto para coluna de cinema do jornal A Hora do Sul, edição impressa conjunta de 05 e 06 de julho de 2025.