Os melhores filmes de 2024

Em recente texto para o A Hora do Sul (edição de 28/12/2024), onde escrevo semanalmente, acabei por definir 2024 como um ano de boa safra para o cinema. Depois de concluir isso tão repentinamente, fiquei a me questionar se foi verdadeiramente assim ou apenas um reflexo de um ano em que retomei minha regularidade e curiosidade em relação ao cinema, após uma pandemia e um mestrado. Talvez seja exatamente isso, mas é inegável que diversos filmes neste ano levantaram questões em diferentes instâncias e destacaram momentos de transição da sociedade e do próprio cinema.

Mesmo em filmes dos quais não gostei integralmente, encontrei pontos de reflexão e conversas enriquecedoras, e isso é mais que positivo, é excitante. Nem tudo precisa ser extraordinário para provocar um delicioso debate. Assim, partilho aqui os meus favoritos de um 2024 que já passou. Destaco que os filmes selecionados não estão em ordem de preferência ou qualquer tipo de ranqueamento. Apenas o escolhido como favorito do ano decidi diferenciar nesta lista.

Vale lembrar que os filmes escolhidos estiveram em circuito comercial neste ano em Portugal, onde vivo, além de alguns vistos em festivais de cinema e estreias em plataformas de streaming.

Favorito de 2024

Todos Nós Desconhecidos (All of us Strangers, 2023), de Andrew Haigh

Alguns filmes fazem com que eu desenvolva conversas com análises longas e debates acalorados, mas, junto a isso, existe uma certa preferência não verbalizada de não desenvolver um texto sobre eles. Talvez seja o receio de, em definitivo, cristalizar algo. Em algumas situações, basta ficar com aquela obra em um terreno íntimo, de pouca exposição. Todos Nós Desconhecidos, de Haigh, é um desses filmes e, estranhamente, como diversos outros filmes do diretor, trata exatamente de intimidade e do íntimo.

Distintos, a intimidade trata do corriqueiro, do ordinário, do dia a dia, enquanto o íntimo identifica a essência de alguém. Nesses dois aspectos, o realizador britânico desenvolve esta adaptação muito livre e pessoal do romance Strangers, de Taichi Yamada. Evolui-se o drama fantasmagórico, com ares de horror, para um drama existencial melancólico, onde uma viagem ao passado é um rito para superar o que atravanca o presente e corrói o futuro. É sobre desejo, luto e, de uma forma bem brega, um pouco de esperança em meio à tragédia.

O diretor Andrew Haigh no set de Todos Nós Desconhecidos.

Outros favoritos

  • Caminhos Cruzados (Crossing, 2024), de Levan Akin
  • Cidade;Campo (2024), de Juliana Rojas
  • La Chimera (2024), de Alice Rohrwacher
  • O Quarto ao Lado (The Room Next Door, 2024), de Pedro Almodóvar
  • As Três Filhas (His Three Daughters, 2024), de Azazel Jacobs
  • A Traveler’s Needs (2024), de Hong Sang-soo
  • Dias Perfeitos (Perfect Days, 2023), de Wim Wenders
  • Love Lies Bleeding (2024), de Rose Glass
  • Rivais (Challengers, 2024), de Luca Guadagnino
  • Volveréis (2024), de Jonás Trueba
  • Anora (2024), de Sean Baker
  • Jurado #2 (Juror #2, 2024), de Clint Eastwood
  • A Zona de Interesse (The Zone of Interest, 2023), de Jonathan Glazer
  • Dahomey (2024), de Mati Diop
  • Apocalipse nos trópicos (2024), de Petra Costa
  • No Other Land (2024), de Yuval Abraham, Basel Adra, Rachel Szor e Hamdan Ballal
  • Reality (2023), de Tina Satter
  • Tardes de Solidão (Tardes de Solitud, 2024), de Albert Serra
  • Joker: Folie au Deux (2024), de Todd Phillips
  • Wicked (2024), de John M. Chu
  • O Dia que te Conheci (2023), de André Novais Oliveira
Grace Passô e Renato Novais em cena de O Dia que te Conheci, de André Novais Oliveira

Destaques especiais

  • Retrospectivas de Nagisa Oshima e Jane Campion (Batalha Centro de Cinema, Porto)
  • Sessão especial de Opening Night, de John Cassavetes  (Teatro Campo Alegre, Porto)
  • Sessão especial de Padre Padrone, de Vittorio Taviani e Paolo Taviani (Porto Post Doc)
  • Recordações da Casa Amarela, de João César Monteiro (Batalha Centro de Cinema, Porto)
  • De Cierta Manera, de Sara Gomez (Batalha Centro de Cinema, Porto)
Meg Ryan em Em Carne Viva (In the Cut, 2003) de Jane Campion revisto na retrospectiva apresentada no Batalha