A seleção do Festival de Cannes foi divulgada hoje na íntegra. Porém desde o anúncio recente do filme de Quentin Dupieux, Le Deuxieme Acte, para a abertura do evento ainda que fora da competição, havia no ar certa surpresa a todos. Os filmes escolhidos anualmente para a abertura do Festival tendem a ser grandes azarões (principalmente os que são produções francesas) ou produções grandiosas Hollywoodianas. É a destacar-se que os filmes de Dupieux são bem recebidos, além de possuírem orçamentos enxutos, histórias escandalosas e um certo reconhecimento em um segmento indie e alternativo. Se Cannes vai arriscar a abrir com produções duvidosas, que sejam como as de Dupieux que caminham longe da obviedade e abraçam a possibilidade de arriscar-se.
Do restante da seleção competitiva principal, pela Palma de Ouro, vale destacar nomes já carimbados nas seleções dos últimos anos como Yorgos Lanthimos (com o seu aguardado Kind of Kindness onde repete a parceria com Emma Stone), Ali Abbasi (com The Apprentice), o brasileiro Karim Ainouz (com Motel Destino) do qual vale apontar sua presença constante nos últimos anos no Festival. Andrea Arnold retorna (finalmente!) com Bird, Jacques Audiard apresenta o musical Emilia Perez. Já um dos cineastas mais interessantes dos últimos anos, Sean Baker se faz presente com Anora.
David Cronenberg mostra que continua em plena velocidade de produção com The Shrouds. E após sua parceria com Maureen Fazendeiro na excepcional comédia-pandêmica Diários de Otsoga (2021), o português Miguel Gomes regressa com Grand Tour. Ainda constam nomes como Christophe Honoré (com Marcello Mio), Jia Zhang-Ke (com Feng Liu Yi Dai), Gilles Lellouch (por L’amour Ouf), Kirill Serebrennikov (com Limonov – The Ballad), Paul Schrader (com Oh Canada) e Paolo Sorrentino (com Parthenope).
Selecionados pela primeira vez na Competição do Festival, apesar de já terem passado por outras mostras do evento francês, estão Payal Kapadia (com All We Image as Light), Magnus von Horn (com Pigen Med Nalen) e as recém chegadas a Cannes: Coralie Fargeat (com The Substance) e Agathe Riedinger (com Wild Diamond).
Um destaque especial precisa ser feito à produção de Francis Ford Coppola, Megalopolis, o seu magnum opus. Sem distribuição definida, apesar de diversos interessados em mercados diversos, o filme foi quase que inteiramente financiado pelo próprio Coppola e marca um retorno depois de uma ausência de 45 anos do diretor na competição do Festival. Anteriormente o realizador e Thierry Fremaux, diretor artístico do Festival, entraram em desacordo sobre as condições de exibir seu filme Tetro (2009) em Cannes. Coppola só aceitaria a exibição no evento se fosse em Competição – o mesmo que havia solicitado na época de Apocalypse Now (1979) – porém Fremaux rejeitou a ideia. O filme acabou ganhando um prêmio especial paralelo entregue pela Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Experimentais durante o Festival.
Já na Un Certain Regard, mostra paralela mas de igual importância, como de costume, são diversos os realizadores e realizadoras que emergem selecionados pela primeira vez no evento. São eles Julien Colonna (com Le Royaume), Louise Courvoisier (por Vingt Dieux!), Laetitia Dosch (com Le Procès du Chien), Mo Harawe (com The Village Next to Paradise) e Ariane Labed (por September Says) e Halfdan Ullmann Tøndel (por Armand).
Já os que possuem passagem anterior em Cannes e se encontram na mostra são Tawfik Alzaidi (com Norah), Konstantin Bojanov (por The Shameless), Guan Hu (com Gou Zhen), Boris Lojkine (por L’histoire de Souleymane), Roberto Minervini (com The Dammed), Rungano Nyoni (por On Becoming a Guinea Fowl), Hiroshi Okuyama (por Boku no Ohisama), Sandhya Suri (por Santosh) e Minh Quý (por Viet and Nam).
Já em outras seções do Festival encontram-se filmes fora de competição, porém muito aguardados como o épico Horizon – An American Saga (retorno de Kevin Costner ao gênero western). Furiosa – Uma Saga Mad Max (de George Miller), C´est Pas Moi (de Leos Carax) que causa estranheza em não estar em competição dado seu histórico com o evento. Ainda há exibições para Misericórdie (de Alain Guiraudie), The Invasion, documentário do ucraniano Sergei Loznitsa sobre a invasão russa ao seu país. Outro documentário a ser exibido é Ernest Cole, Lost and Found, de Raoul Peck (de Eu Não Sou Seu Negro, 2016).
Encerrando os anúncios, Cannes ainda destacou a atribuição do prêmio especial pela carreira ao cineasta e produtor George Lucas.